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É a sexta causa mais comum de morte por câncer em todo o mundo, mas muitas pessoas não percebem que têm a doença.
É que o câncer de esôfago — tubo longo que transporta o alimento da garganta para o estômago — não causa sintomas no início da enfermidade.
Foi o que aconteceu com o ex-jogador de futebol escocês Andy Goram, que atuou como goleiro e jogou por vários clubes da Escócia e da Inglaterra; recentemente, ele revelou ter câncer de esôfago.
A notícia chocou seus seguidores, quando Goram, de 58 anos, anunciou em maio que recebeu o prognóstico de que teria apenas mais seis meses de vida.
Em uma entrevista, o ex-jogador de futebol explicou que se sentiu mal há cerca de sete semanas, quando teve problemas para comer e beber.
Goram conta ter ignorado a azia que sofreu inicialmente, depois de não conseguir uma consulta com seu médico.
Como ele, muitos pacientes tratados de câncer de esôfago falam sobre como essa doença se apresenta inicialmente sem sintomas, ou com sintomas que muitas vezes são facilmente ignorados.
Em 2020, segundo dados do Ministério da Saúde, esse tipo de câncer foi o quinto de maior mortalidade em homens no Brasil, após o que afeta vias respiratórias (traqueia, brônquios e pulmões), próstata, cólon e reto e estômago.
'Ignorei como todo mundo'
Paul Sinclair, de Fife, região da costa leste da Escócia, disse à BBC que começou a sentir o que parecia um gás na parte inferior da caixa torácica em setembro de 2020. Sinclair também sentia como se tivesse comido demais após poucas mordidas.
"Ignorei, como todo mundo", diz ele. "Me sentia com gases. Mas estava comendo bem, sem dor."
"Era apenas um incômodo sob minhas costelas. Durou cerca de uma semana e meia e então pensei: 'Vou ver alguém com relação a isso'."
"Fui ao médico e ele me mandou direto para uma endoscopia. O exame confirmou que eu tinha um tumor na parte superior do estômago."
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Ex-jogador de futebol escocês Andy Goram anunciou em maio que está com câncer de esôfago e tem apenas seis meses de vida
Sinclair passou por quatro rodadas de quimioterapia durante um período de oito semanas antes de uma pausa de seis semanas.
Depois disso, foi submetido a uma cirurgia de 11 horas, que também incluiu a remoção de seu baço — pequeno órgão localizado na parte superior esquerda do abdômen, que participa do processo de filtragem do sangue.
Sinclair posteriormente passou por "quimioterapia muito agressiva" novamente.
"Fiquei muito mal com as sessões de quimioterapia", explica ele. "A segunda sessão foi pior porque o corpo já está fraco depois da cirurgia."
"À medida que você se recupera, precisa começar a aprender a comer novamente, mastigar bem os alimentos, comer pequenas porções e fazer muitas refeições ao longo do dia".
Agora, três anos depois, Sinclair pode voltar à academia para praticar exercícios leves, mas "nada será como antes".
"Você tem que permanecer otimista e ser grato por todos os dias que acorda", diz ele.
"O mais importante é que não tive sintomas particularmente graves, mas é importante não ignorá-los e consultar um médico."
Quais são os sintomas do câncer de esôfago?
O esôfago é o tubo longo que transporta o alimento da garganta para o estômago. Os principais sintomas do câncer são:
- Problemas para engolir (disfagia)
- Náuseas
- Azia ou refluxo
- Sintomas de indigestão, como arrotar muito
Outros sintomas incluem:
- Tosse que não melhora
- Voz rouca
- Perda de apetite ou perda de peso sem tentar perdê-lo
- Cansaço ou falta de energia
- Dor na garganta ou no meio do peito, especialmente ao engolir
Fonte: NHS (Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido)
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Câncer de esôfago é frequentemente descrito como 'o assassino silencioso', porque se apresenta inicialmente sem sintomas ou com sintomas que muitas vezes são facilmente ignorados
'Você nunca se recupera completamente'
Linda Moffat, que também mora na Escócia, se considerava uma mulher em boa forma física aos 48 anos e andava a cavalo todos os dias.
Mas em dezembro de 2014, começou a sentir "que a comida não descia, como se estivesse grudando em mim", lembra. "A dor aumentava e a comida ficava presa."
"Tinha que vomitar para me sentir bem. Achei que fosse uma úlcera. E que não era nada sério."
Depois de um tempo, Moffat diz que "criou coragem de falar com o médico" e recebeu uma prescrição de antiácidos. Mas os sintomas continuaram e ela foi encaminhada para uma endoscopia.
O exame revelou um "tumor muito avançado" no esôfago e este foi "o início de uma jornada muito longa e difícil", explica.
"É um câncer muito agressivo e a cirurgia é realmente brutal: oito horas", diz. "Você passa por quimioterapia antes e depois. Precisa aprender a comer de novo."
"E acaba tendo muitos problemas com vômitos, diarreia e dor. Acho que ninguém nunca se recupera totalmente."
"Tenho muita sorte. Meu câncer estava muito avançado e eu só tinha 20% de chance de sobrevivência", diz.
"Já se passaram quase sete anos e estou muito feliz por estar viva e muito grata a todos que me ajudaram a estar aqui."
"Esta doença é muitas vezes chamada de 'assassina silenciosa' porque os sintomas variam muito", acrescenta. "Você apenas reza para as pessoas irem ao médico rápido o suficiente"
'Quanto antes, melhor'
Caroline Geraghty, enfermeira especialista do instituto de pesquisa Cancer Research UK, diz que o risco de câncer de esôfago é aumentado por "fatores típicos", como fumar, beber álcool, ganhar peso e mascar tabaco.
"Mas ter um risco maior não significa que você definitivamente terá câncer", diz. "A maioria das pessoas não sabe por que tem câncer de esôfago."
Geraghty recomenda a qualquer pessoa que tenha sintomas a consultar seu médico "para ter certeza".
"Como sabemos, quanto mais cedo o câncer é identificado, maior é a chance de sobrevivência do paciente", acrescentou.
Mas ela ressalva que, para a maioria das pessoas que se queixam de sintomas como azia e disfagia, o diagnóstico não é de câncer de esôfago.
"Podemos entender por que alguns médicos de clínica geral não enviam o paciente diretamente para a endoscopia para investigar o que há de errado; algumas pessoas só precisam realmente de antiácidos", diz.
"Mas haverá outras pessoas que vão precisar de uma investigação mais profunda."
- Este texto foi originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-61806403