© Veja SP experimento-sono-01
A maioria da população mundial dorme um “sono monofásico”. Ou seja: você dorme de sete a oito horas por noite, de uma tacada só, sem intervalos. Mas você já ouviu falar do “sono polifásico“? A técnica foi usada por personalidades como Leonardo da Vinci, Benjamin Franklin e Napoleão Bonaparte.
No sono polifásico, você não dorme apenas à noite, mas sim descansa em várias fases ao longo do dia. Em teoria, isso proporcionaria uma funcionalidade maior do corpo. Um dos métodos mais controversos da técnica é chamado de “agenda Uberman”. Nesse caso, a pessoa tira seis sonecas de 20 minutos ao longo do dia. Assim, você passaria apenas duas horas do seu dia dormindo — o que poderia acrescentar mais 20 anos acordado à expectativa de vida de um ser humano. Mas será que o sono polifásico é seguro?
Um repórter do BuzzFeed americano decidiu testar a teoria. Ele conversou com Jackson Nexhip, um australiano que pratica o sono polifásico há seis meses, para tentar definir uma rotina um pouco menos radical para completar o desafio. “A ideia é quebrar o seu sono na maior parte de fragmentos possíveis“, aconselhou o rapaz. O jornalista deixou o cronograma mais intenso de lado e decidiu fazer a versão “Everyman”, que permite 4,5 horas de sono por noite, além de dois cochilos de 20 minutos durante a tarde. Com esse método, uma pessoa dormiria pouco mais de 5 horas por noite.
Preocupado com o impacto do desafio em sua saúde, o jornalista Ryan Bergara decidiu procurar um médico para saber como o sono polifásico poderia afetar o seu corpo — ou se o cronograma era recomendado. Alon Avidan, especialista em sono pela UCLA, alertou o jornalista, dizendo que o cronograma não era uma boa ideia e que as pessoas precisam, em média, de sete a oito horas de sono por dia. “O sono polifásico, de maneira geral, não é uma boa ideia. Um dos meus pacientes comparou com o ato de assar pão. Se você deve deixar o pão no forno por cerca de dez horas, se você tirar o pão prematuramente após meia hora, e depois continuar colocando o pão no forno a cada dez minutos, ele não vai crescer. É a mesma metáfora: o sono tem que estar acontecendo durante aquele período de tempo“, aconselhou o profissional.
“Cinco horas e dez minutos de sono podem ser apropriadas para algumas pessoas. São as pessoas com o chamado ‘sono curto’. As chances de você ser uma dessas pessoas são bem pequenas, porque essa é uma condição bastante rara“, explicou o médico. Mesmo com os alertas, Ryan continuou firme no desafio. O primeiro e segundo dia do sono polifásico foram especialmente difíceis, com o repórter tendo dificuldades para completar tarefas do dia a dia. “Eu estou exausto, estou tão cansado que nem fui malhar“, desabafou no segundo dia do desafio. “As pessoas que fazem isso usam o tempo extra para se exercitar ou fazer algo, mas eu estou tão morto que sou incapaz de fazer qualquer coisa“, disse ele no quarto dia.
No quinto dia, as reações de Ryan começaram a ficar um pouco estranhas: ele não conseguia permanecer focado e passou 30 minutos gargalhando no escritório. Já no sexto dia, o rapaz teve uma terrível dor de cabeça e teve dificuldades para falar, além da falta de motivação. No sétimo dia, ele abandonou o experimento: “Eu não vejo mais por que fazer isso“. Assista:
“O que eu aprendi nessa experiência? Descobri o quão crucial a quantidade certa de sono é para a funcionalidade do corpo. Eu não fiquei mais focado nem tive surtos de criatividade, nem senti que o tempo extra que eu fiquei acordado todos os dias valeu a pena“, desabafou Ryan. “Escute o que seu corpo tem a dizer. E eu sei de uma coisa: eu nunca mais vou subestimar o sono, e você também não deveria“.
Via: Veja São Paulo