No México, calcula-se que 1% da população com mais de 65 anos padece de Parkinson, uma porcentagem parecida à do Alzheimer
Martí Quintana, da EFE
Cidade do México - Especialistas mexicanos criaram uma técnica de detecção cutânea em humanos das doenças neurodegenerativas de Alzheimer e Parkinson, uma descoberta com repercussão mundial que, se for confirmada, permitirá conhecer com profundidade esses males sem cura.
"Tendo tecidos de um paciente vivo como a pele, que se pode cultivar, é possível que possamos entender melhor a fisiopatogenia (funcionamento do organismo) destas doenças", disse à Agência Efe Ildefonso Rodríguez Leyva, um dos líderes desta pesquisa da Universidad Autónoma de San Luis Potosí (UASLP).
No México, calcula-se que 1% da população com mais de 65 anos padece de Parkinson, uma porcentagem parecida à do Alzheimer e que aumenta à medida em que a população envelhece, destacou o também representante internacional da Academia Mexicana de Neurologia.
De fato, os estudos estimam que quatro de cada dez idosos com 85 anos sofrem algum tipo de dolência neurodegenarativa, lembrou Rodríguez.
"Atualmente, estas doenças ganham grande relevância pelo envelhecimento da população mundial. Este estudo nos dá a vantagem de investigar seus mecanismos", explicou à Efe María Esther Jiménez, outra das autoras do estudo.
Até o momento, as proteínas "anormais", como a alfa-sinucleína no Parkinson e a tau no Alzheimer, eram detectadas no cérebro de pessoas falecidas ou em tecidos nervosos, não cultiváveis em laboratório.
Essa descoberta permitiu detectar as doenças com um "pedacinho de pele" de humanos vivos e estudar e reproduzir suas células a posteriori, segundo Rodríguez Leyva.
"Se conseguirmos que a pele seja um espelho do cérebro, poderemos observar a progressão e eficácia dos tratamentos", acrescentou Jiménez.
Para o paciente, o procedimento é "praticamente indolor", pois com anestesia local são retirados quatro milímetros de diâmetro de pele para sua análise em laboratório, detalhou a pesquisadora.
O estudo começou testando se os anticorpos utilizados pela equipe reconheciam a proteína em cérebros de pacientes com Parkinson e Alzheimer, o mesmo depois foi realizado com terminações nervosas e, finalmente, nas células da pele dos pacientes, onde reside a novidade da pesquisa.
O teste aconteceu com 65 sujeitos, saudáveis e doentes, e se for confirmado por outros laboratórios, em um período estimado "não menor a cinco anos", permitirá baratear também os custos de detecção, reforçaram os pesquisadores mexicanos.
"Poderíamos chegar a uma maior parte da população mais facilmente", disse Jiménez.
Por enquanto, a pesquisa não proporciona ainda um diagnóstico precoce das doenças neurodegenerativas, mas, graças ao fato de poder cultivar as células da pele, haveria a possibilidade de, no futuro, identificar os transtornos em períodos antecipados.
Atualmente, a mesma equipe trabalha na detecção na pele da paralisia supranuclear progressiva, outra doença neurodegenerativa com um variante da proteína do Alzheimer, descreveu Rodríguez Leyva.
A descoberta será apresentada na 67ª reunião anual da Academia Americana de Neurologia, que acontecerá entre os dias 18 e 25 de abril em Washington.
Para os pesquisadores, o maior reconhecimento é que a nova técnica "seja útil para a população", concluiu Jiménez.