No século 17, Jan Steen (1626-1679) e outros pintores holandeses, como Gabriel Metsu e Samuel van Hoogstraten, registraram uma intrigante epidemia de "mal de amor" nos Países Baixos. No entanto, essa não foi uma ocorrência isolada.
Em diversas épocas, tanto escritores, poetas e dramaturgos quanto médicos se dedicaram a analisar essa condição, com os artistas frequentemente demonstrando um interesse mais profundo do que os profissionais de saúde. Essa ênfase talvez se deva à característica predominante das vítimas: em sua maioria, eram jovens garotas adolescentes ou mulheres jovens que apresentavam apatia.
O médico alemão Johannes Lange, em 1554, denominou esse problema de Morbo virgineo ou "doença das virgens". Os sintomas eram diversos e muitas vezes imprecisos: palidez extrema, aversão à comida (especialmente carne), dificuldade respiratória, palpitações, mudanças de humor, fadiga, apatia e inchaço nos tornozelos.
Lange acreditava que o remédio para essa condição era que as mulheres se relacionassem sexualmente com homens e engravidassem, o que supostamente as curaria.
Obra 'Clorose', (circa 1899) do artista catalão Sebastià Junyent (1865-1908)
A doença recebeu outros nomes ao longo do tempo, como febris amatoria ou "febre amorosa", até que Jean Varandal, um professor de Medicina em Montpellier, cunhou o termo "clorose" em 1619. Ele escolheu essa palavra a partir dos tratados hipocráticos dos séculos 4º e 5º a.C., onde a condição já era mencionada.
O termo "clorose" se originou da antiga palavra grega "cloros", que significa "amarelo esverdeado" ou "verde pálido". Isso era uma referência à suposta aparência da pele das jovens afetadas, embora especialistas modernos discutam a precisão desse diagnóstico. Alguns acreditam que as pessoas viam essa coloração por expectativa, já que pensavam que deveriam vê-la. Irvine Loudon, da Universidade de Oxford, sugeriu que o apelido "doença verde" poderia derivar da ideia de que essas mulheres eram metaforicamente "verdes", ou seja, carentes de experiência ou maturidade.
Independentemente das nomenclaturas, a clorose foi categorizada como uma doença nervosa ao longo do tempo e adquiriu sintomas adicionais, principalmente a ausência de menstruação (amenorreia), e tratamentos como sangria terapêutica, hidroterapia e ferroterapia.
No entanto, os tratamentos mais comuns envolviam indicar comportamentos considerados "apropriados para mulheres", como a atividade sexual dentro do casamento e a concepção. A educação era fortemente desaconselhada para mulheres que sofriam da doença.
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Publicidade em espanhol de 'Pílulas Hermosina', que prometiam dar 'beleza' e 'curar anemia e clorose'
A clorose permanece um enigma na história da medicina, pois os casos aumentavam e diminuíam sem uma explicação clara. No início do século 19, essa condição chamou particular atenção. Registros históricos, como os da Enfermaria de Finsbury, em Londres, entre 20 de março e 20 de abril de 1800, mostram que o transtorno "clorose e amenorreia" era o segundo mais frequente, logo após "problemas pulmonares sem febre".
Na década de 1890, 16% das internações no Hospital São Bartolomeu, em Londres, eram devido a essa causa. No entanto, sem uma explicação clara, os registros da doença começaram a diminuir e, no início do século 20, desapareceram completamente. Isso deixa perguntas sem respostas, como se os sintomas foram atribuídos a um diagnóstico diferente, se o tratamento se tornou mais eficaz com foco na dieta das pacientes, em vez de sua virgindade, ou se a doença simplesmente deixou de ser diagnosticada.
Diversas hipóteses foram propostas para explicar esse desaparecimento, incluindo melhorias na alimentação e nas condições de vida da população, associação da doença à riqueza, alegando que mulheres mais abastadas eram mais propensas devido a hábitos como o uso de corpetes apertados e pouca exposição à luz solar e ao exercício físico. Outras teorias relacionam a clorose a meninas com excesso de trabalho e má alimentação, que viviam em áreas urbanas.
Houve também sugestões de que a doença poderia ser uma forma de anemia por deficiência de ferro, bem como uma condição psicossocial semelhante à anorexia nervosa. No entanto, como o hematologista Leslie John Witts observou em 1969, o mistério da clorose continua sem uma resolução definitiva.
Atualmente, o termo "clorose" é usado para descrever deficiência de ferro em plantas, que se manifesta como a perda da coloração verde nas folhas. Além disso, o termo "doença verde" é usado para se referir à anemia hipocrômica, na qual os glóbulos vermelhos têm menos coloração do que o normal quando observados ao microscópio. A causa mais comum dessa condição é a falta de ferro no corpo, e os sintomas são semelhantes aos da doença que, por séculos, foi erroneamente atribuída a "mulheres nervosas".