Médica revela o papel das estatinas no contra-ataque à infecção pelo coronavírus e aponta outras medidas para resguardar o coração nestes tempos

Estatinas são receitadas para controlar o colesterol alto, um dos principais fatores de risco para problemas cardíacos. Ilustração: Pedro Hamdan/SAÚDE é Vital

A notícia é boa: as estatinas são uma opção de tratamento complementar contra a doença causada pelo coronavírus. Isso porque esses remédios, indicados para pessoas com colesterol elevado, problemas cardiovasculares, diabetes, entre outras condições, protegem a parede dos vasos e modulam a inflamação, reduzindo o risco de trombose. É um efeito particularmente vantajoso diante da Covid-19.

 Indivíduos infectados pelo novo vírus podem apresentar um processo inflamatório nas células que revestem os vasos sanguíneos. Além de controlar o colesterol no sangue, sua função clássica, os comprimidos de estatina têm justamente ação anti-inflamatória e melhoram o estado das artérias pelo corpo.

Um estudo retrospectivo feito na China com 13 981 pacientes de Covid-19 demonstrou que, na fase de internação hospitalar, a prescrição de estatinas esteve associada a menor risco de morte por todas as causas. Não é que elas, sozinhas, revertam o problema, mas se somam ao arsenal já empregado contra a doença para impedir agravamentos. Tudo sob supervisão médica, convém frisar.


  O uso de remédios deve continuar

Uma preocupação de quem testa positivo para o coronavírus é dar sequência ou não aos medicamentos de uso contínuo durante o período de convalescença. No caso dos remédios para controle do colesterol, sim, essa rotina deve persistir. Ainda que tenhamos de aguardar novas evidências dos estudos em relação à Covid-19, quem precisa tomar estatina está garantindo proteção cardiovascular com segurança — e poderá se beneficiar desse outro efeito da droga frente à infecção.

Além disso, vale ressaltar que o uso combinado de estatinas e de medicamentos normalmente prescritos para o controle da pressão arterial não promove agravamento nem aumento do risco de mortalidade em pessoas com hipertensão que pegam o coronavírus. Isso já foi comprovado cientificamente. Ou seja, ambos os tratamentos devem seguir em frente.


O sedentarismo e a alimentação na pandemia

Sabemos que o estilo de vida também impacta os níveis de colesterol e gordura no sangue. E o sedentarismo, um dos efeitos colaterais da pandemia, tende a aumentar as taxas de triglicérides e reduzir o bom colesterol (HDL). A ingestão de alimentos ricos em gordura saturada (carne vermelha, produtos industrializados…), por sua vez, pode elevar os níveis do colesterol ruim (LDL). É uma combinação nada bem-vinda às artérias.

Por isso, é altamente recomendável que, neste momento, os exercícios possam ser mantidos, mesmo em casa, com modalidades adequadas ao menor espaço, de preferência supervisionadas ou orientadas por um profissional por meio das ferramentas digitais disponíveis.

Algumas recomendações alimentares simples também fazem diferença. Apesar da tendência de abusar das guloseimas por estarmos mais tempo em casa, devemos dar preferência ao consumo de produtos de origem vegetal, in natura ou minimamente processados. Também é indicado diversificar a dieta — com grãos, raízes, frutas,  hortaliças, leguminosas, castanhas, leite, ovos, carne, frango, peixes etc. — e utilizar óleos, sal e açúcar em pequena quantidade.

 Fazer refeições com regularidade e atenção, em ambientes apropriados e, sempre que possível, com companhia, tornam esses eventos agradáveis, o que contribui para a sensação de bem-estar. Outra dica importante é, quando solicitar a entrega de refeições, escolher estabelecimentos que façam comida na hora ou no mesmo dia.


Prevenir é sempre melhor que remediar

Conselhos como os citados acima ajudam a enfrentar momentos de crise com saúde e alegria e fazem parte da campanha de alerta que a Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo(Socesp) está promovendo na semana de 8 de agosto, o Dia Nacional de Controle do Colesterol. Trata-se de um fator de risco para doenças cardiovasculares que atinge 40% da população adulta e ainda repercute nos infectados pelo coronavírus.

Boa parte das pessoas desse grupo não controla o colesterol e corre sério risco de sofrer um infarto ou um AVC. Os números são elevados: cerca de 400 mil pessoas morrem todos os anos no Brasil por doenças cardiovasculares, principal causa de óbito no país.

O Estudo Epidemiológico de Informações da Comunidade (Epico), da Socesp, constatou que apenas 16% das pessoas apresentavam valores de colesterol dentro das metas determinadas pela DiretrizBrasileira de Dislipidemia e Prevenção da Aterosclerose. De acordo com o levantamento, o colesterol foi o fator de risco cardiovascular menos controlado pela população.

 Aliás, nenhum paciente avaliado tinha os três principais fatores de risco, colesterol, hipertensão e diabetes, plenamente controlados. O estudo coletou dados de mais de 9 mil pessoas no estado de São Paulo, de ambos os gêneros, em unidades básicas de saúde de 32 cidades.

Agora que já experimentamos as restrições impostas pela pandemia de Covid-19, precisamos reorganizar a rotina, a alimentação e a frequência de atividade física visando a esse bem maior, a saúde e a qualidade de vida. Vamos tentar?

* Dra. Maria Cristina Izar é cardiologista, diretora de Promoção e Pesquisa da Sociedade deCardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) e professora livre-docente de cardiologia da Universidade Federalde São Paulo (Unifesp)

Fonte: Saúde

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