O primeiro estudo a demonstrar que probióticos e prebióticos podem ajudar a controlar o diabetes tipo 2
Cápsulas com cinco bactérias probióticas e uma fibra prebiótica foram testadas em pessoas com diabetes tipo 2. Foto: GI/Getty Images |
Em plena pandemia de Covid-19, erra feio quem pensa que os micro-organismos causam apenas problemas. Muitos deles são sócios do nosso corpo e nos ajudam a ganhar ou manter a saúde. Estou falando do microbioma.
Microbioma é uma comunidade de seres microscópicos que
moram dentro da gente. Acredite se quiser, mas cerca de metade das células
abrigadas pelo corpo humano não são de origem humana. Isso mesmo! Elas são
células de micro-organismos vivos como bactérias, fungos e companhia.
E eles não são hóspedes ingratos. Podem exercer diversas
funções vitais que nosso organismo em si não é capaz de desempenhar — isso
passa pela digestão, pelo combate a patógenos etc. Temos micro-organismos do
bem na boca, no nariz, no intestino, na região genital, na pele… e eles vivem
em harmonia com o nosso corpo.
A ciência vem descobrindo que o número e os tipos dessas
criaturas invisíveis a olho nu interferem bastante em nossa saúde. O ideal é
ter a quantidade certa e a mistura certa de micro-organismos nos lugares
certos, um tema que tem rendido centenas de pesquisas.
O local mais
estudado para avaliar a interação entre o microbioma e a saúde é o intestino.
E desbalanços nessa relação são observados há anos em doenças como obesidade
e diabetes. Muitos se questionam se isso seria causa ou apenas
consequência desses problemas.
Mais recentemente, cientistas da farmacêutica Pendulum, na
Califórnia (EUA), avaliaram o efeito de probióticos associados a uma
fibra, a inulina, no contexto do diabetes tipo 2. Eles misturaram em
cápsulas cinco micro-organismos (Akkermansia muciniphila, Clostridium
beijerinckii, Clostridium butyricum, Bifidobacterium infantis e Anaerobutyricum
hallii) e a fibra que atua como prebiótico, ou seja, como se fosse
alimento para essas bactérias.
A escolha das cinco espécies tem a ver com o seguinte: elas
induziriam maior produção, no intestino, de butirato, molécula que está em
falta em pessoas com diabetes tipo 2 e que ajuda a reduzir a inflamação em
geral, os níveis de glicose no sangue e o apetite.
Em artigo preliminar publicado na renomada revista The British Medical Journal, os pesquisadores
descrevem que testaram esse combo de probióticos (e prebiótico) e o compararam
com o efeito de um placebo (cápsulas sem princípio ativo) em 58 pacientes com
diabetes tipo 2. Após 12 semanas, observaram uma diferença de 0,6 ponto percentual
na hemoglobina glicada, exame que dá uma média trimestral do controle da
glicose no sangue, e melhora da glicemia após as refeições na turma que usou o
mix de probióticos e inulina.
Dá pra dizer que houve uma boa redução na hemoglobina
glicada. Porém, não houve diferença na glicemia de jejum e em marcadores da
resistência à insulina, a situação que impede o bom aproveitamento do açúcar no
sangue.
Segundo os autores, esse é o primeiro estudo a
demonstrar benefícios de probióticos (com prebióticos) em pessoas com diabetes
tipo 2.
Bem, e que lições práticas esse achado nos traz? Em
primeiro lugar, quando falamos em probióticos, falamos em nomes genéricos.
Devemos sempre saber quais são os micro-organismos em questão, as quantidades,
a forma de armazenamento e os estudos conduzidos a respeito. Não adianta tomar
qualquer bebida láctea ou cápsula achando que seu problema estará resolvido.
Para cada tipo de benefício esperado, precisamos de tipos
diferentes de bactérias. Ou seja, existem probióticos diferentes para
objetivos diferentes. Por serem organismos vivos, eles ainda dependem de
condições ideais de fabricação e armazenamento (como refrigeração, no caso de
iogurtes e bebidas lácteas).
Deixo aqui minha impressão pessoal. O estudo americano é
promissor e mostra que aquela combinação específica pode ser um coadjuvante no
tratamento do diabetes. Seria um complemento sem riscos à saúde, mas que não
substituiria medicamentos prescritos.
Ponderações vêm à tona: trata-se de uma primeira evidência,
vinda de um estudo com um número pequeno de pacientes e um seguimento de apenas
quatro meses. Experimentos mais amplos, com maior tempo de acompanhamento e
maior número de voluntários, vão nos dizer o real benefício dessa estratégia
como coadjuvante no tratamento do diabetes.
Isso posto, não posso esquecer de deixar um recado: nunca
use um suplemento ou medicamento, nem modifique seu tratamento, sem conversar
com seu médico antes.
Fonte: Uol
Por: Dr. Carlos Eduardo Barra Couri