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Em vez de uma explosão de fúria, uma piada, um deboche, uma indireta, palavras dúbias ou um silêncio total. Você já se pegou agindo assim ou conhece alguém que se comporta desse jeito quando é contrariado? São reações típicas do comportamento passivo-agressivo.

Quem convive com uma pessoa passivo-agressiva sofre muito, sobretudo quando essas reações são frequentes. "Trata-se de um transtorno de personalidade com um comportamento quase sempre de vitimação nas relações interpessoais, mas dissimulam uma agressividade, criando ambientes desfavoráveis para convivência", explica Ligia Costa Leite, professora do Instituto de Psiquiatria da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Alguns indícios ajudam a identificar o comportamento dessas pessoas. Elas costumam dizer frases conciliadoras como "Tudo bem, eu te entendo", "Não precisa se preocupar" ou "Eu só queria ajudar", mas sempre com um tom de agressividade na voz ou um olhar de raiva, o suficiente para encerrar qualquer possibilidade de conversa. Quem recebe esse tratamento, fica com a sensação de que a situação ficou mal resolvida. E às vezes até sente culpa pelo que aconteceu.

Ou seja, o passivo-agressivo age de uma maneira calculada para que esse tipo de dúvida fique no ar. Acaba sendo uma violência pior do que se fosse cometida às claras, pois não é possível saber o que se passa na mente de quem a comete. E é um comportamento mais comum do que se possa imaginar. Tanto nos relacionamentos amorosos e no ambiente profissional, quanto entre familiares ou amigos.

Em geral, são as pessoas submissas que extravasam raiva, frustração, teimosia, irritação e mau humor de forma aparentemente passiva. Um comportamento que, na realidade, é tão agressivo quanto um grito ou outras expressões violentas. Elas usam a ambiguidade como se fosse uma peça estratégica num jogo de xadrez para levar os demais a fazerem suas vontades.

Isso não quer dizer que elas são necessariamente movidas pela maldade. Muitas vezes, agem com a intenção de evitar conflitos. Em outras, é a desconfiança em relação ao outro que as faz agir com hostilidade.

O que leva alguém a ser assim?
Segundo Carlos Remor, psicanalista e professor da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), a passivo-agressividade geralmente tem origem na infância e permanece na vida adulta. "A pessoa não consegue sair do comportamento infantil. Age como uma criança que, tamanho é o culto de si mesma, não reconhece o outro". O especialista diz que o passivo-agressivo costuma acusar outras pessoas do que ele mesmo faz, assim como as crianças.

Outra possibilidade é que o excesso de cuidado e de proteção na infância esteja por trás desse modo de ser. Crianças que têm todos os seus pedidos atendidos aprendem a manipular os adultos para que continue sendo assim. Não sabem agir de forma equilibrada quando passam por situações adversas.

O passivo-agressivo também pode ter sido criado por pais ou responsáveis que tinham por hábito repreendê-lo o tempo todo. Ou que praticavam maus-tratos justificando que eram castigos necessários para proporcionar uma boa educação. Nesse caso, o medo de reviver as experiências do passado faz com que a pessoa use as agressões disfarçadas como escudo.

Violência que causa sofrimento
Na maior parte das vezes, o comportamento passivo-agressivo é inconsciente, de acordo com Leite. Mas isso não exime a pessoa da responsabilidade pelo mal que causa a quem está ao redor. "Mesmo que ela não tenha clareza do que faz, não deixa de ser responsável por isso", afirma Remor. Na cabeça do passivo-agressivo, ele é a vítima, porque se sente afrontado, prejudicado, ressentido ou abandonado. Por isso, arquiteta uma vingança e ataca quem considera que causou esses males.

Um exemplo clássico de como isso acontece é quando marcamos um encontro com alguém e, de repente, o compromisso é cancelado sem nenhuma explicação. Além do silêncio, acrescenta o psicanalista, o passivo-agressivo atinge seus alvos com ironias, sarcasmos, hesitações, lapsos intencionais, censuras que servem para os outros e nunca para ele mesmo, demonstrações intimidatórias, reações emocionais de cólera e regras que cria de acordo com a circunstância.

Em outras palavras, essas pessoas têm um arsenal de instrumentos para lidar com quem reprovam por algum motivo. Leite enumera alguns. "Ser dissimulado, manipulador e encenar atos para chamar a atenção ou mudar a posição de alguém da convivência". Essas ferramentas são usadas com o objetivo de assumir o controle da situação.

Qualquer um de nós pode se comportar de forma agressiva uma vez ou outra. Mas há uma nítida diferença em relação à agressividade passiva, principalmente nos casos onde ela é mais intensa. "Todo mundo, quando provocado, reage. Se houver um pedido de desculpa ou se isso não for frequente, é suportável. Mas se não for assim, se torna insuportável", compara Remor.

Como conviver com o passivo-agressivo
Não é fácil lidar com pessoas que têm esse comportamento, principalmente se convivemos com elas diariamente. É doloroso e desgastante viver tentando descobrir o porquê de determinadas condutas, questionando se não somos nós os culpados por atitudes que invariavelmente geram mal-estar ou brigas. Se for possível, o bom mesmo é se afastar de quem torna o ambiente tóxico.

Mas nem sempre existe essa opção, como quando o passivo-agressivo é o seu chefe ou alguém da família, por exemplo. Nesse caso, a recomendação é não fazer o jogo dele. "Não dar chance, munição para o outro. Dizer poucas palavras e não querer revidar tudo, muito menos no momento. É bom se preparar porque a pessoa vem com tudo premeditado", aconselha Remor. Pensar antes responder e tentar colocar limites no relacionamento são outras estratégias para tentar facilitar o convívio.

Se você for passivo-agressivo, o melhor caminho é procurar uma terapia. "Mas isso pressupõe um desejo da pessoa de mudar o seu comportamento", diz Leite. Ter consciência do problema é o primeiro passo do tratamento. Também ajuda falar sobre os seus sentimentos, se questionar por que age dessa maneira, procurar ser honesto, não prometer algo que não pretende cumprir e não interpretar as atitudes alheias como ataques pessoais.

Fonte: Uol
Sibele Oliveira

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