Casal pratica exercício: No grupo de pacientes que passou pelo programa de treinamento físico, a atividade simpática ficou cerca de 10% menor
Karina Toledo, da AGÊNCIA FAPESP

Em portadores de insuficiência cardíaca, qualquer atividade simples do cotidiano, como subir escadas, fazer compras ou tomar banho, pode causar taquicardia, fadiga e dificuldade para respirar.

Tal intolerância ao esforço, segundo dados da literatura científica, está relacionada com uma hiperatividade do sistema nervoso simpático – parte do sistema nervoso autônomo responsável por controlar, entre outros fatores, os batimentos cardíacos, pressão arterial e a contração e o relaxamento de vasos sanguíneos.

Os mecanismos moleculares por trás da hiperatividade simpática e os efeitos benéficos do treinamento físico na modulação desse sistema foram investigados durante o doutorado de Lígia M. Antunes-Corrêa, realizado no Instituto do Coração da Universidade de São Paulo (Incor-USP) no âmbito do Projeto Temático “Bases celulares e funcionais do exercício físico na doença cardiovascular”, coordenado pelo professor Carlos Eduardo Negrão, que também é membro da Coordenação Adjunta de Ciências da Vida da FAPESP.

Os resultados foram divulgados recentemente em artigo publicado no (http://ajpheart.physiology.org/content/307/11/H1655) American Journal of Physiology – Heart and Circulatory Physiology.

“Existem dois tipos de receptores no tecido muscular: o metaborreceptor e o mecanorreceptor. Quando eles são estimulados, a atividade simpática aumenta. Mas em pacientes com insuficiência cardíaca esse aumento é exagerado, o que parece estar relacionado com uma hiperatividade dos mecanorreceptores, e isso faz com que os pacientes se cansem mais facilmente. Queríamos entender melhor por que isso ocorre”, explicou Antunes-Corrêa.

Como a própria nomenclatura sugere, o mecanorreceptor é uma espécie de sensor mecânico, ativado pela simples contração e relaxamento muscular.

Já o metaborreceptor é um sensor químico, ativado pelos metabólitos produzidos em resposta à contração do músculo.

Em pessoas saudáveis, a ativação desses receptores durante a realização de exercícios físicos tem a função de aumentar a atividade do sistema cardiovascular e respiratório e garantir o aporte adequado de sangue e oxigênio para as células.

“Mas estudos anteriores mostraram que, como a musculatura dos portadores de insuficiência cardíaca sofre uma série de alterações metabólicas em razão da redução no fluxo sanguíneo e da hiperatividade simpática, o metaborreceptor fica em contato constante com uma série de metabólitos produzidos em excesso, mesmo durante atividade leves do dia a dia, e acaba perdendo sua sensibilidade. Como forma de compensação, o receptor mecânico fica hiperativado”, contou Antunes-Corrêa.

Por meio de uma biópsia do músculo vasto lateral da coxa de pacientes com insuficiência cardíaca, o grupo do Incor observou que a perda de sensibilidade do metaborreceptor estava associada a uma redução na expressão de outros dois receptores em seu entorno: o TRVP1 e o CB1.

Já a hiperatividade do mecanorreceptor foi relacionada com o aumento da inflamação muscular mediada pela enzima ciclooxigenase-2 (COX2).

“Essa enzima participa da produção de prostaciclinas, prostaglandinas e tromboxano – moléculas que podem modular a sensibilidade dos mecanorreceptores”, explicou Antunes-Corrêa.

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