Poetas, músicos, políticos e faraós egípcios estão entre as vítimas das arrasadoras doenças

Aids, polimielite, febre amarela e sarampo estão entre as doenças que mais mataram no século 20
Foto: Montagem / Agência RBS


Já são mais de 2 mil as vítimas do surto do vírus ebola no oeste africano. E se alastra proporcionalmente pelo mundo o pânico de que a epidemia se espalhe pelos continentes, contaminando e dizimando outras populações. A Organização Mundial da Saúde (OMS) está prestes a declarar a situação como uma "ameaça sanitária internacional".

No último século, pelo menos outras dez doenças deixaram números de vítimas igualáveis ou superiores aos contabilizados em guerras e desastres naturais de grandes proporções. Confira abaixo as epidemias/endemias causadas por vírus, bactérias e outros microrganismos que traumatizaram a humanidade — e que também levaram poetas, músicos, artistas, personalidades e políticos.

TUBERCULOSE

Dom Pedro I teria sido uma das vítimas da tuberculoseFoto: Reprodução, Tela do Palácio Grão-Pará

Estima-se que durante sua epidemia, entre 1850 e 1950, mais de 1 bilhão de pessoas morreram em decorrência da tuberculose, considerada uma das doenças infecciosas que mais matam no mundo. Os primeiros casos de tuberculose teriam sido registrados há mais de 20 mil anos. 

Entre suas vítimas, estão grandes poetas românticos, como Castro Alves eÁlvares de Azevedo, no Brasil, e John Keats e Lord Byron, na Europa. Dom Pedro I também teria morrido em decorrência da doença.

A doença, no entanto, não ficou no passado. Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), um terço da população está infectada com a bactéria Mycobacterium tuberculosis (o bacilo de Koch) — mas apenas uma pequena parcela desenvolve a doença. Em 2012, 1,3 milhão de pessoas que contraíram a bactéria morreram. 

Transmissão
Proximidade com pessoas infectadas, assim como os ambientes fechados e pouco ventilados favorecem o contágio. O bacilo de Koch é transmitido nas gotículas eliminadas pela respiração, por espirros e pela tosse. Além dos pulmões, a doença pode acometer órgãos, como os rins.

Sintomas
Tosse por mais de duas semanas, produção de catarro, febre, sudorese, cansaço, dor no peito, falta de apetite e emagrecimento são os principais sintomas. Em casos avançados, pode aparecer escarro com sangue.

Tratamento 
O tratamento da tuberculose é feito com a administração de antibióticos combinados por pelo menos seis meses. No Brasil, a distribuição dos medicamentos é gratuita. 


VARÍOLA

Em 1947, surto levou 6 milhões de nova-iorquinos a tomar vacina Foto: Reprodução

Cerca de 300 milhões de pessoas morreram durante o surto mundial da varíola, entre 1896 e o fim da década de 1970 — quando a doença foi erradicada. Acredita-se que essa seja a causa da morte de importantes figuras históricas, como o rei francês Luís XV e o faraó egípcio Ramsés V. O músico e compositorLudwig van Beethoven teria sido um dos sobreviventes da varíola, ficando com o rosto marcado pela doença. 

A varíola foi considerada erradicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1980. O último caso teria sido na Somália, entre 1977 e 1978.

Transmissão
Causada pelo vírus Orthopoxvírus variolae, a doença era transmitida pelo contato com pessoas doentes ou objetos que entraram em contato com a saliva ou secreções destes indivíduos. 

Sintomas
O vírus se estabelecia na garganta e nas fossas nasais e provocava febre alta, mal-estar, dor de cabeça, dor nas costas e abatimento. A seguir, a doença assumia uma forma mais violenta: a febre baixava e começavam a aparecer erupções avermelhadas, primeiro na garganta, boca, rosto e, depois, pelo corpo inteiro. Com o tempo, as erupções evoluíam e se transformavam em pequenas bolhas cheias de pus, provocando dor e coceira intensa.

Tratamento
Quando essa doença ainda não estava erradicada, o máximo que se podia fazer era tentar amenizar a coceira e a dor, e esperar que o organismo reagisse para vencer o vírus. O modo de frear a disseminação da varíola foi a vacina. Com ela, foi possível a erradicação da doença. 

GRIPE ESPANHOLA
Hospital de emergência para as vítimas da gripe espanhola nos EUAFoto: Reprodução 

O vírus Influenza é um dos maiores inimigos da humanidade e mostrou sua força principalmente durante os quatros anos da Primeira Guerra Mundial. Acredita-se que neste período 50 milhões de pessoas tenham morrido infectadas pela doença que ficou conhecida como gripe espanhola (não se sabe exatamente por que). 

A doença rapidamente se alastrou pelos continentes, caracterizando-se pela elevada morbilidade (taxa de portadores) e mortalidade, especialmente nos setores jovens da população. Calcula-se que a gripe espanhola tenha afetado50% da população mundial. Entre suas vítimas, está o presidente brasileiroRodrigues Alves.

Transmissão
A transmissão do vírus Influenza se dá pelo ar, por meio de gotículas de saliva e espirros.

Sintomas
Febre, dor de cabeça, dores pelo corpo, mal-estar geral, tosse e coriza. Os mesmos de uma gripe normal, porém mais graves, abrindo caminho para quadros de pneumonia.

Tratamento
Pelo fato de o vírus estar em permanente mutação, o homem nunca está imune. Vacinas antigripais previnem a contaminação com formas já conhecidas do Influenza.

TIFO
Anne Frank, vítima do holocausto, teria morrido em decorrência do tifoFoto: Reprodução 

A doença é causada pelas bactérias do gênero Rickettsia e ocorre em diversas regiões do mundo, especialmente em locais com higiene e saneamento precários e com elevada aglomeração de pessoas. Estudos revelam que cerca de 3 milhões de pessoas morreram em decorrência da doença entre 1918 e 1922. Anne Frank (foto acima), uma das vítimas do holocausto, teria sido vítima da doença.

Transmissão
A bactéria se desenvolve num reservatório animal e é transmitida ao homem pela picada de insetos infectados (geralmente piolhos, pulga de ratos e carrapatos), ou por meio de fezes contaminadas.

Sintomas
Febre, dor de cabeça, calafrios, delírio e manchas rosadas.

Tratamento
Uso de antibióticos e cuidados de suporte para aliviar os sintomas. Nos casos de doença avançada, pode ser necessário administrar medicamentos à base de corticosteroides.

FEBRE AMARELA
Brasil foi considerado um "destino perigoso" por causa da doençaFoto: Jefferson Botega / Agência RBS 

O flavírus já foi causa de grandes epidemias nas Américas e na África, dizimando centenas de moradores, tanto de zonas urbanas, quanto rurais. Na Etiópia, a febre amarela teria matado aproximadamente 30 mil pessoas entre 1960 e 1962. Em razão da doença, o Brasil chegou a ser considerado um "destino perigoso" e foi privado do transporte marítimo e da exportação do café. Dom Afonso, filho de Dom Pedro II, foi uma das vítimas da febre amarela.

Transmissão
A febre amarela não é transmitida de uma pessoa para a outra. A transmissão do vírus ocorre quando o mosquito pica uma pessoa ou primata (macaco) infectados, normalmente em regiões de floresta e cerrado, e depois pica uma pessoa saudável que não tenha tomado a vacina.

Sintomas
Febre alta, mal-estar, dor de cabeça, dor muscular muito forte, cansaço, calafrios, vômito, diarreia. Em casos graves pode ocorrer icterícia, hemorragias, comprometimento dos rins, fígado, pulmão e problemas cardíacos.

Tratamento
Consiste em hidratação e uso de antitérmicos que não contenham ácido acetilsalicílico. Casos mais graves podem requerer diálise e transfusão de sangue. Existe vacina para a doença.

SARAMPO
Sarampo era uma das doenças que mais matavam crianças até 1963Foto: Charles Guerra/AgênciaRBS 

O sarampo era uma das doenças que mais matavam crianças até 1963, quando foi descoberta a primeira vacina. Em 2010, 139,3 mil pessoas morreram em decorrência do sarampo, grande parte delas na Índia e no continente africano. No Brasil, no mesmo ano, o número de casos foi de 68 — e nenhuma vítima. Entre as crianças vítimas da doença está Olívia, filha do escritor britânico Roald Dahl, autor de obras como A Fantástica Fábrica de Chocolate e Matilda. 

Transmissão
A doença é causada pelo vírus Morbillivirus, propagado por meio das secreções mucosas, como a saliva, de indivíduos doentes.

Sintomas
Febre alta, dor de cabeça, mal-estar, inflamação das vias respiratórias e pequenas erupções avermelhadas na pele.

Tratamento
Repouso, ingestão de bastante líquido, alimentação leves e uso antitérmicos para baixar a febre. Em alguns casos, há necessidade de tratamento para o aumento de imunidade. A vacina é eficaz em cerca de 97% dos casos e deve ser aplicada em duas doses a partir do nono mês de vida da criança.

MALÁRIA
Doença Doença é transmitida pela picada da fêmea do mosquito AnophelesFoto: Centers for Disease Control and Prevention / Divulgação 

É uma doença parasitária que pode ter evolução rápida e ser grave. Prevalecente nos países de clima tropical e subtropical, a malária pode ser provocada por quatro protozoários do gênero Plasmodium. A Amazônia é a região do Brasil onde ocorrem 98% dos casos de malária.

A malária mata quase 2 milhões de pessoas e infecta entre 400 milhões e 500 milhões todos os anos. Do total de mortes, 90% ocorrem na África subsaariana. Estudos sugerem que o faraó egípcio Tutancâmon tenha sido vítima da doença.

Transmissão
A malária é uma doença parasitária transmitida de pessoa para pessoa por meio da picada da fêmea do mosquito Anopheles. Esses mosquitos geralmente picam entre o pôr do sol e o amanhecer.

Sintomas
Febre (ciclos de febre típicos, calafrios e sudorese podem acontecer), dores de cabeça, vômitos frequentes, convulsões e coma.

Tratamento
O tratamento mais efetivo para a malária é a combinação terapêutica à base de artemisinina.

AIDS
Mais de 20 milhões já morreram em decorrência da aidsFoto: Fernando Gomes/Agência RBS

A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, como também é chamada, é causada pelo HIV. Como esse vírus ataca as células de defesa do nosso corpo, o organismo fica mais vulnerável a diversas doenças, de um simples resfriado a infecções mais graves como tuberculose ou câncer.

Mais de 20 milhões de pessoas já morreram em decorrência da aids. Entre as personalidades que contraíram o vírus estão os cantores e compositores Cazuzae Renato Russo e o escritor Caio Fernando Abreu.

Transmissão
O vírus HIV sobrevive em ambiente externo por apenas alguns minutos. Mesmo assim, sua transmissão depende do contato com as mucosas ou com alguma área ferida do corpo.

Sintomas
Os mais comuns são febre constante, manchas na pele, calafrios, ínguas, dores de cabeça, de garganta e dores musculares, que surgem de 2 a 4 semanas após a pessoa contrair o vírus. Nas fases mais avançadas, é comum o aparecimento de doenças oportunistas como tuberculose, pneumonia, meningite, toxoplasmose, candidíase etc.

Tratamento
A possibilidade de associar várias drogas diferentes, entre elas o AZT, mudou por completo o panorama do tratamento da AIDS, que deixou de ser uma moléstia uniformemente fatal para transformar-se em doença crônica passível de controle. Hoje, desde que adequadamente tratados, os HIV-positivos conseguem conviver com o vírus por longos períodos, talvez até o fim de uma vida bastante longa.

POLIOMIELITE
Vacina deve ser aplicada em crianças a partir de dois meses de idade
Foto: Roberto Scola/Agência RBS

A poliomielite é uma doença infectocontagiosa aguda, causada por um vírus que vive no intestino, denominado Poliovírus. Embora ocorra com maior frequência em crianças menores de quatro anos, também pode ocorrer em adultos. A primeira grande epidemia de pólio nos Estados Unidos, em 1916, infectou mais de 27 mil pessoas, resultando em aproximadamente 6 mil mortes e milhares de casos de paralisia.

Entre as personalidades mundiais que contraíram a doença estão a pintora mexicana Frida Kahlo e o estadista norte-americano Franklin Roosevelt.

Transmissão
Ocorre por via fecal-oral, através do contato direto com as fezes ou com secreções expelidas pela boca das pessoas infectadas.

Sintomas
Na maioria dos casos, a infecção pelo vírus da poliomielite pode ser assintomática. Nas formas não paralíticas, os sinais mais característicos são febre, mal-estar, dor de cabeça, de garganta e no corpo, vômitos, diarreia, constipação, espasmos, rigidez na nuca e meningite. Na forma paralítica, quando a infecção atinge as células dos neurônios motores, além dos sintomas já citados, instala-se a flacidez muscular que afeta, em regra, um dos membros inferiores.

Tratamento
Repouso para reduzir a taxa de paralisia, uso de analgésicos, atendimento hospitalar nos casos de paralisia ou de alteração respiratória e acompanhamento ortopédico e fisioterápico. Existe vacina contra a pólio. Ela deve ser aplicada aos 2, 4, 6 e 15 meses de idade. Até os cinco anos, as crianças devem receber doses de reforço anualmente

Fontes: Organização Mundial de Saúde (OMS) e Fundação Oswaldo Cruz

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