A descoberta de cinco variações genéticas hereditárias ligadas a um tipo câncer de próstata mais agressivo abre o caminho para um exame sanguíneo capaz de distinguir entre os tumores mais perigosos e os de evolução mais lenta, segundo um estudo publicado nesta terça-feira.
"Os biomarcadores podem distinguir entre os pacientes com um tumor de próstata latente e aqueles que sofrem um câncer de próstata mais agressivo", explicou Janet Stanford, autora principal deste estudo clínico, publicado na versão on-line da revista "Cancer Epidemiology, Biomarkers and Prevention".
"Enquanto estudos prévios sugeriam que as características genéticas são determinantes no desenvolvimento deste câncer, esta pesquisa é a primeira a estabelecer o papel das variações genéticas específicas na mortalidade", disse Stanford, coordenadora do programa de pesquisas sobre o câncer de próstata do Centro Hutchinson.
Os participantes portadores de quatro destas cinco variações apresentaram risco 50% maior de morrer de câncer de próstata do que aqueles com duas mutações ou menos.
"Estes marcadores podem ser utilizados clinicamente com outros indicadores já conhecidos de câncer de próstata para avaliar a agressividade do tumor, como a pontuação de Gleason, e identificar os homens com risco elevado", acrescentou Stanford.
O Centro Hutchinson apresentou um pedido de patente para estes cinco marcadores.
Atualmente, um número elevado de homens, especialmente os de mais idade, com tumores de próstata de evolução lenta e baixa probabilidade de morrer, são submetidos a tratamentos desnecessários, como a eliminação da glândula, sendo expostos a efeitos colaterais como impotência sexual e incontinência urinária, segundo os autores desta pesquisa.
Além disso, estes tratamentos desnecessários têm um alto custo econômico, avaliado de US$ 2 milhões a US$ 3 milhões ao ano nos Estados Unidos.
"Decidimos estudar as variações nos genes que desempenham potencialmente um papel-chave nos processos biológicos que podem contribuir para o avanço do câncer de próstata, como a inflamação, a produção de esteroides, o metabolismo, a reparação do DNA, o ritmo circadiano e a atividade da vitamina D", disse Stanford.
Para este estudo, os cientistas, inclusive os que trabalham no Instituto Nacional do Câncer (NCI, na sigla em inglês), analisaram o DNA das amostras de sangue de um grupo de 1.309 homens de Seattle (Washington) com câncer de próstata e de 35 a 74 anos no momento do diagnóstico.
Os cientistas estudaram 937 alterações em 156 genes. Vinte e duas destas variações parecem estar relacionadas com a mortalidade por este câncer.
Os autores do estudo analisaram estas 22 variações genéticas em outra população de 2.875 homens na Suécia de 35 a 74 anos e com câncer de próstata.
Eles descobriram que cinco destas variações no DNA se associam fortemente com a mortalidade por câncer de próstata.
Uma proporção muito maior de doentes morreu de câncer no grupo da Suécia (17,4%), em comparação com o de Seattle (4,6%), durante um período de acompanhamento de seis anos e meio.
Esta diferença nas taxas de mortalidade corresponde às taxas nacionais dos Estados Unidos e da Suécia: os suecos morrem quase quatro vezes mais de câncer de próstata que os americanos.
O câncer de próstata é o tipo de câncer mais comum entre os homens, depois do câncer de pele, e tem aumentado fortemente nos últimos anos.
Em 2010, nos Estados Unidos, 217.730 novos casos foram diagnosticados e 32.050 homens morreram vítimas desta doença.